Muito tem se falado sobre o papel dos biólogos na saúde, mas, a bem da verdade, em algumas áreas, alguns biólogos ainda não entenderam seu papel na saúde pública. O que desejamos dizer aqui é que não adianta, durante a formação do profissional das ciências biológicas, ele (o então aluno) ficar sabendo que pode atuar em saúde, e sim que ele precisa ser formado para atuar em saúde, e, mais do que isso, integrar essa formação para os desafios da nossa sociedade, da crise das mudanças climáticas, da necessidade de recuperação de áreas degradadas e entender que isso tudo está interligado. Aquele conceito de que os biólogos estudam o todo para entender e unificar áreas, a visão holística, apesar de escrito, falado e paulatinamente divulgado, na realidade não é aplicado e ensinado, para não dizer desestimulado, pois o estímulo é à hiperespecialização e fragmentação do conhecimento em subáreas das ciências biológicas. Não à toa, apesar de os biólogos terem as ferramentas ideais para atuação em Saúde Única, foi outra profissão de saúde que conseguiu agarrá-la e chamar de sua.
Para além da história da nossa profissão e sua atual fragmentação em diversos cursos que foram criados, muitas vezes com o desejo de criação de novos departamentos, dentro do prisma da autonomia universitária, muitas pessoas ainda acham que, quando um curso de biologia tem boa formação em saúde, isso se traduz em um curso com disciplinas de bioquímica geral, genética geral e morfologia humana, por exemplo. Para depois continuar com a formação geral em botânica, zoologia, ecologia, evolução e talvez estudo de impacto ambiental (claro, estamos simplificando). Alguns cursos simplesmente ignoram mesmo as disciplinas de ciência básica na área da saúde, com o argumento de vocação da região ou especialidades de seus professores, o que depois acarreta no entendimento regional de gestores públicos que biólogos, apesar de serem profissionais da saúde reconhecidos desde 1997 pelo Conselho Nacional de Saúde (CNS), de fato, não estudam saúde.
Voltando um pouco, nos deparamos com cursos com meia dúzia de disciplinas em ciência básica em saúde humana, e os representantes desse curso, muitas vezes, acham que formaram biólogos para atuar em saúde, afinal, ele até cursou "imunologia geral". Se o egresso precisar do conhecimento para realizar um hemograma, entender legislação sanitária ou até mesmo quais os caminhos para atuar com aconselhamento genético, é um problema do aluno, e ele que busque uma especialização, que muitas vezes nem sequer é bem aproveitada, justamente pela falta de embasamento aplicado mínimo. Cursos da saúde, para serem realmente da saúde, devem se integrar ao Sistema Único de Saúde (SUS), devem ser pensados para o atendimento da população, do pobre ao rico, e a saúde pública e suas políticas não podem ser meramente o acaso da linha de pesquisa de um professor, pois saúde se exige em todos os municípios do país. Dizer que estudar saúde é opcional para um curso que se propõe a formar profissionais da saúde é, no mínimo, incoerente, para não dizer um desastre profissional, com as consequências a olho nu no Estado do Rio Grande do Sul.
Informada parcela da nossa problemática de formação e também de informação, um dado confirma a análise acima: boa parte dos biólogos não sabe que pode fazer "RESIDÊNCIA". Exatamente, residência! Não existem apenas médicos residentes, mas também biólogos. Desde a Lei Federal nº 11.129, de 30 de junho de 2005, existe formalmente a residência para as outras classes de saúde, entre elas, a dos biólogos.
Para nenhuma surpresa, temos conhecimento da Residência em Vigilância em Saúde da Escola de Saúde Pública em Porto Alegre, com uma vaga exclusiva para biólogos. No ano de 2024, apenas 5 inscritos.
Fonte: FUNDATEC
No Exame Nacional de Residência - ENARE de 2024 (o ENEM das residências), existem mais vagas para biólogos do que para biomédicos, mas apenas 67 biólogos se inscreveram no país todo. Apenas 2 biólogos se inscreveram para realizar a prova no Rio Grande do Sul.
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Fonte: ENARE/EBSERH
O que os biólogos estão perdendo por desconhecimento?
- R$ 4.106,09 é o valor da bolsa que os biólogos recebem, e há desconto do INSS;
- São mais de 5 mil horas de curso;
- Diferencial: o curso é eminentemente prático, do tipo treinamento em serviço, ou seja, você aprende e se especializa em serviço e já é considerado profissional atuante em sua área, pois literalmente assina seus trabalhos com o CRBio, que, aliás, é exigido para a matrícula.
A última característica mencionada acima torna a residência no Brasil considerada o padrão-ouro na especialização em saúde. Aprender na prática e conseguir a vivência em determinada área, aliada à teoria, torna a residência uma especialização muito diferente das especializações comuns de 360 horas. Também se engana quem acredita que não há contato com grupos ou linhas de pesquisa na área acadêmica. Em alguns locais, os residentes são absorvidos pela área acadêmica igualmente, mas isso não é obrigatório.
Outra característica das residências é que é muito comum a absorção dos ex-alunos nas próprias instituições, visto que sua existência fixa professores e profissionais nesses locais por área de especialidade.
Há alguns anos, as profissões da área da saúde têm solicitado ao governo uma valorização diferenciada para os egressos das residências, incluindo iniciativas legislativas que buscam garantir essa pontuação, como já ocorre com a residência médica.
Outro pensamento que se pode ter é que, ao realizar uma residência, o profissional só pode atuar na área da saúde, no sentido literal. Não é verdade, e dependendo de onde está inserida a residência, você pode atuar na área de educação em saúde, biotecnologia ou mesmo na interface saúde/meio ambiente. Assim como tudo que acontece no meio ambiente se reflete na saúde e bem-estar da população, entender a saúde também ajuda a melhor entender os efeitos da destruição ambiental.
Se você é biólogo e não sabia dessa possibilidade, e gostaria de saber mais, ou ainda, se você é biólogo gestor ou atua na área da saúde e gostaria de implantar uma residência em seu local de trabalho, leia mais no site abaixo:
Residência Multiprofissional – Governo Federal
Continuando o trabalho da gestão passada nesse quesito, a Gestão 2024/2028 do CRBio-03 pretende fomentar a criação de residências para biólogos no Estado do Rio Grande do Sul.