Biólogo integra projeto de cápsula para o Samu

Protótipo objetiva proteger os profissionais e está em fase de validação

 

Quem atua na linha de frente em serviços de saúde sabe que a exposição ao risco é uma constante. A pandemia de COVID-19, que já vitimou centenas de profissionais de saúde, exacerbou esse quadro e levantou a questão: como proteger aqueles que se dedicam a salvar vidas?

Em Montes Claros, no Norte de Minas, uma das respostas surgiu da iniciativa conjunta de um Biólogo, de uma engenheira e de profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu): uma cápsula de isolamento para o transporte de pacientes com suspeita de infecção pelo novo coronavírus.

Pedro Henrique Figueiredo da Silveira (049819/04-D), Biólogo responsável pelo desenvolvimento do protótipo da cápsula, explica que o projeto nasceu de uma demanda apresentada pelos próprios operadores do Samu. "Já existem equipamentos para o isolamento de corpo inteiro do paciente no mercado. Porém, devido ao momento que vivemos, a aquisição desses acessórios se tornou ponto de dificuldade para a Macro Norte - região que integra 86 municípios mineiros e é atendida por um consórcio de saúde. Percebemos que era possível desenvolver um modelo mais prático e mais barato", relata.

Além do Biólogo, integram a equipe responsável pelo projeto Erlane Sandra Motta, engenheira biomédica; Ubiratam Correia, enfermeiro e coordenador do Núcleo de Educação Permanente do Samu Macro Norte; e Willie Dingsor Souza Pereira, médico do Samu e profissional graduado em Ciências Biológicas.

A cápsula desenvolvida pelo grupo tem um custo de produção 30 vezes menor que o equipamento convencional disponível hoje no mercado e oferece proteção de cabeça, pescoço e tórax. A estrutura, em alumínio, é retrátil, o que possibilita uma rápida remoção na necessidade de uma manobra de emergência, como uma reanimação cardiopulmonar. Já a cobertura é feita em PVC alimentício, dotada de um filtro, de um exaustor e de duas íris, que permitem, por exemplo, que o médico ministre algum medicamento ao paciente. "Além de criar uma barreira física para eventuais secreções, o exaustor tem capacidade de vazão de 75 l/m2, o que gera uma ventilação negativa e evita a saída de ar mesmo que a cápsula não esteja completamente vedada", explica.

A escolha dos materiais, segundo o Biólogo, privilegiou o custo, a facilidade de reprodução e manuseio e a durabilidade. A cobertura em PVC é descartável e a fixação é feita por botões plásticos, possibilitando a troca simples e rápida após a finalização de um atendimento.

O protótipo da cápsula está em fase de validação e passando por diversos testes conduzidos pela equipe de treinamento do Samu. De acordo com Pedro Henrique, os resultados até aqui são animadores. "Participamos de alguns workshops com médicos intensivistas e todos atestaram a eficiência do equipamento", conta. "O que é essencial ressaltar, contudo, é que a cápsula foi pensada como um equipamento de segurança adicional, para se somar aos EPIs e aos protocolos sanitários já adotados e oferecer mais proteção aos operadores", complementa o Biólogo.

Pode até parecer excesso de zelo, uma vez que os profissionais do Samu dispõem de máscaras N95 e macacões impermeáveis, mas não é difícil compreender como eles estão expostos e como a cápsula pode auxiliar na diminuição da carga viral dentro da ambulância e na quebra da cadeia de contaminação: quando o veículo está ocupado por equipe e paciente, o espaço interno de circulação é de meros dois metros quadrados e os profissionais ficam a uma distância média de 45cm do rosto do paciente. "Se o paciente tosse, o aerossol vai direto no rosto dos operadores". Por essa razão, Pedro Henrique acredita que a cápsula pode se tornar de uso permanente, mesmo após a crise do novo coronavírus ser superada, já que auxiliaria na prevenção à contaminação por outros patógenos.

 

Em busca de parcerias

Após a validação do protótipo, a expectativa é de que sejam confeccionadas estruturas e coberturas plásticas para atender as 56 ambulâncias do Samu da Macro Norte. O grande gargalo, hoje, está na selagem do plástico, que ainda é feita de forma manual e leva até três dias. Por essa razão, Pedro Henrique e o restante da equipe estão em busca de parceiros, seja para o financiamento ou para a disponibilização de linha produtiva.

O Biólogo também faz questão de destacar que o projeto é aberto e não almeja qualquer retorno financeiro. "O intuito é ajudar. Qualquer pessoa que quiser ter acesso ao protótipo ou puder contribuir com o projeto pode nos contatar", conclui.

Interessados podem fazer contato com o profissional pelo e-mail: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo..